sexta-feira, 5 de março de 2010

Continuidade, O Teólogo do Espírito Santo

O Ensino de Calvino sobre o Espírito e a Palavra

Calvino não se limitou a criticar os exageros dos "Entusiastas." Ele apresentou, de forma positiva e construtiva, o ensino bíblico sobre a direção divina para a Igreja vivendo após os tempos apostólicos. No livro I das suas Institutas, onde trata de "O Conhecimento de Deus como Criador", Calvino dá o seguinte título ao capítulo 9: Os fanáticos, abandonando as Escrituras e bandeando-se para revelação, derrubam todos os princípios da piedade. Nesse capítulo, o reformador aborda o ensino dos "Fanáticos", como eram conhecidos na época, a partir da inseparável relação entre o Espírito e a Palavra.(20)
O Espírito Fala pelas Escrituras
O ponto central de Calvino era que o Espírito fala pelas Escrituras. Não que o Espírito estivesse restrito à Pregação da Palavra e aos sacramentos, mas sim que Ele não pode ser dissociado de ambos. O Espírito havia sido dado à Igreja, não para trazer novas revelações, mas para nos instruir nas palavras de Cristo e dos profetas. De acordo com Calvino, o Espírito sela nossas mentes quando ouvimos e recebemos com fé a palavra da verdade, o Evangelho da salvação (Ef 1.13). Ele limita-se a guiar os crentes e a iluminar seus entendimentos naquilo que ouviu e recebeu do Pai e do Filho, e não de Si mesmo (Jo 16.13). Como o ensino divino se encontra nas Escrituras, a obra do Espírito consiste em iluminá-las, fazendo com que esse ensino seja entendido pelos fiéis.
Contra o desprezo pelas Escrituras da parte de muitos "Entusiastas," Calvino citava o exemplo do apóstolo Paulo, que mesmo tendo sido arrebatado ao terceiro céu, onde recebeu revelações extraordinárias (2 Co 12.2), ainda assim jamais desprezou as Escrituras, como se fossem uma forma inferior de revelação, mas as reconheceu como suficientes e eficazes, pela graça do Espírito, para edificar a Igreja em todas as coisas concernentes ao reino de Deus (2 Tm 3.15-17; cf. 1 Tm 4.13).(21)
O Espírito é reconhecido pela sua harmonia com as Escrituras
Outro ponto importante destacado por Calvino nas Institutas era que a atuação do Espírito Santo poderia ser reconhecida pela sua harmonia com as Escrituras, as quais haviam sido inspiradas pelo próprio Espírito.(22) Calvino desejava apresentar um critério pelo qual a Igreja pudesse discernir de forma segura, no âmbito da experiência religiosa, o que realmente procedia da parte do Espírito de Deus, ou de espíritos enganadores. Para ele, havia somente um critério seguro e infalível: o Espírito falando nas Escrituras. Assim, não haveria qualquer diminuição do poder e da glória do Espírito Santo ao concordar com elas, já que Ele as havia inspirado. Seria concordar consigo mesmo, e qual a desonra que poderia haver nisto? Testar as manifestações supostamente provenientes do Espírito, usando-se o crivo das Escrituras, era, na realidade, agradável a Ele, pois Ele mesmo havia determinado que a Igreja assim procedesse com as manifestações espirituais.(23) Para Calvino, não poderia haver qualquer contradição entre o ensino bíblico e a atuação do Espírito nos tempos pós-apostólicos; e é por esta razão que ele frequentemente se refere às Escrituras como "a imagem do Espírito."(24)

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