sexta-feira, 5 de março de 2010

Continuidade, O Teólogo do Espírito Santo

Em que o Ensino de Calvino nos Ajuda Hoje?

Em primeiro lugar, o ensino de Calvino sobre o testemunho interno do Espírito vem lembrar à Igreja que, nestes tempos difíceis, ela deve buscar de Deus a íntima iluminação do Espírito para compreender e aplicar as Escrituras à sua vida e missão. Corremos o risco de pensar que Calvino, em sua luta contra os excessos dos "Entusiastas", caiu no extremo do academicismo frio. Balke nos relata o que de fato ocorreu: "Calvino, o teólogo do Espírito Santo, queria guardar-se contra o fanatismo, sem porém impedir a liberdade do Espírito."(28) Como Calvino, devemos nos guardar dos excessos de hoje, ao mesmo tempo em que, submetendo-nos à liberdade do Espírito, procuramos a sua iluminação. Mas, para isto, é necessário arrependimento e saneamento da vida das igrejas locais, dos conselhos, concílios, organizações e instituições eclesiásticas que compõem a IPB. É preciso nos voltarmos a Deus em oração, suplicando a iluminação do Espírito, como bem orienta a Carta Pastoral da Igreja Presbiteriana do Brasil sobre o Espírito Santo:
Ao mesmo tempo em que orienta a Igreja a guardar-se de uma interpretação das Escrituras que parte dos princípios hermenêuticos equivocados da experiência neopentecostal, a Igreja também adverte contra uma interpretação intelectualizada e árida das Escrituras, que se esquece da necessidade da iluminação do Espírito para sua compreensão e de que Deus promete ensinar àqueles que procuram andar em santidade e retidão (Sl 119.18, 33-34; Lc 24.44-45).(29)
Em segundo lugar, Calvino nos desafia a examinar todas as manifestações espirituais pelo crivo da Palavra de Deus, quanto à natureza, ao propósito, e ao modo destas manifestações. Essa prática está pressupondo corretamente o ensino bíblico de que o Espírito Santo não se contradiz. As Escrituras foram inspiradas por ele. Embora o Espírito aja de formas distintas em épocas distintas, jamais o faz em contradição ao que nos revelou na Palavra. Deveríamos estar abertos para o fato de que o Espírito tem enfatizado aspectos diferentes da Palavra em épocas diferentes — porém, jamais indo além dela ou contra ela.
Em terceiro lugar, o ensino de Calvino nos alerta contra os que pretendem ter total controle sobre o Espírito, que pretendem dispensar o batismo do Espírito pela imposição de mãos, que "ensinam" aos crentes imaturos e incautos a falar em línguas. Alerta-nos a rejeitar todo ensino, movimento, culto, liturgia, onde a Palavra de Deus não receba a devida proeminência. Se o Espírito fala pela Palavra, a Palavra deve ser o centro.
Muitos presbiterianos consideram-se calvinistas e reformados, mas quantos realmente percebem as implicações do ensino calvinista reformado sobre a obra do Espírito para as práticas neopentecostais que são aceitas em muitas das nossas igrejas? Calvino foi, de fato, um homem do Espírito Santo, que guiado por Ele, tornou-se o principal instrumento de Deus para a Reforma do século XVI, movimento que, na realidade, foi um dos maiores reavivamentos espirituais ocorridos na Igreja Cristã, após o período apostólico. Todos nós queremos um reavivamento espiritual, da mesma magnitude. Calvino, que viveu e ministrou em meio àquela tremenda manifestação de poder divino, não teve receio de ofender o Espírito por inquirir, de forma profunda e meticulosa, sobre a genuinidade dos fenômenos que sempre acompanham os grandes movimentos espirituais da História. Se por um lado não devemos ter medo do que o Espírito possa fazer, por outro, devemos temer a obra espúria dos espíritos enganadores, e do nosso próprio coração enganoso.
E por fim, vale a pena mencionarmos que "a era do Espírito Santo", como é conhecida em muitos meios neopentecostais, iniciou-se, não em 1906, com a reunião na rua Azuza, nos Estados Unidos, mas desde o dia de Pentecoste. As evidências bíblicas são numerosas. Em seu sermão no dia de Pentecoste, o apóstolo Pedro declarou que a descida do Espírito estava inaugurando os últimos dias (At 2.16-21). Os demais apóstolos ensinaram, semelhantemente, que os últimos dias, a dispensação anterior ao dia do julgamento final, já havia chegado ( 1 Co 7:29; 1 Jo 2.18). Enfatizo esse ponto pois alguns poderiam argumentar que estamos vivendo hoje na "era do Espírito", e que Calvino viveu antes dessa época. Os que assim acreditam, afirmam que hoje o Espírito está agindo de uma forma muito mais intensa, e mesmo, diferente, da época da Reforma, e que, portanto, o que Calvino experimentou e ensinou está, num certo sentido, ultrapassado. Entretanto, as Escrituras nos ensinam que a Igreja já está vivendo os últimos dias, a dispensação do Espírito, desde o período apostólico. Calvino viveu e ensinou em plena época do Espírito, tanto quanto nós hoje vivemos e labutamos. O ensino de Calvino, por ser bíblico, pode nos servir de balizamento, indicando-nos o estreito caminho do equilíbrio, entre uma vida de piedade e uma mente firmada nas antigas doutrinas da graça.

Continuidade, O Teólogo do Espírito Santo

Relevância do Ensino de Calvino para Nós Hoje

A Época em que Vivemos
A influência do movimento neopentecostal, surgido na década de sessenta, tem-se feito sentir de forma profunda nas denominações evangélicas históricas, e também dentro da Igreja Presbiteriana do Brasil. Não podemos tratar o movimento como um bloco monolítico — existem, dentro dele, diversas correntes e ramificações, o que faz com que generalizações tornem-se injustas. Mas, onde aparece com toda a liberdade, o neopentecostalismo manifesta a crença em novas revelações através de profecia e línguas, visões e sonhos, todos atribuídos ao Espírito Santo, e em alguns casos, práticas estranhas ao Cristianismo histórico, que são atribuídas ao poder do Espírito Santo, como "cair" no Espírito, o "sopro" do Espírito, o "riso santo", característica principal do movimento conhecido como "a bênção de Toronto". Há pastores que pretendem ter controle sobre o Espírito Santo, que presumem concedê-lo pela imposição de mãos, lançá-lo sobre o povo, girando o paletó, soprando sobre eles, etc., como o conhecido carismático Benny Hinn. Estes super-pastores determinam até mesmo quando o Espírito vai curar ou agir, pois marcam com antecedência reuniões de cura e libertação, coisa que nem mesmo o Senhor Jesus e os apóstolos fizeram.
A Igreja Presbiteriana está aturdida, tomada de surpresa, por estes ensinos. Muitas de suas igrejas locais têm adotado, em maior ou menor medida, as doutrinas e práticas do neopentecostalismo. Podemos receber ajuda do ensino de Calvino, nesta hora?

Continuidade, O Teólogo do Espírito Santo

A Influência de Calvino na Confissão de Fé de Westminster

A Confissão de Fé de Westminster, adotada pela Igreja Presbiteriana do Brasil, foi elaborada no século XVII, quase um século após a morte de Calvino, por pastores e teólogos Puritanos, reunidos com este fim pelo Parlamento Inglês, na Assembléia de Westminster. O alvo dos eruditos ali reunidos durante vários anos era um só: formular de forma sistemática a doutrina bíblica, partindo dos princípios de interpretação herdados da Reforma. A Igreja Presbiteriana tem adotado essa Confissão como a expressão correta do ensino das Escrituras. Os seus autores foram profundamente influenciados por João Calvino. Esta influência se percebe claramente no ensino da Confissão sobre o Espírito Santo, e em especial, na relação do Espírito com a Palavra.
Assim, no seu capítulo sobre as Escrituras, a Confissão declara, nos melhores termos calvinistas, que a autoridade da Escritura não depende do testemunho do homem ou da Igreja, mas de Deus ( I, 4), que a nossa certeza da sua infalível verdade e autoridade divina provém do testemunho do Espírito Santo em nossos corações (I, 5), que à Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições de homens (I, 6). A Confissão reafirma, com Calvino, que é necessária a íntima revelação do Espírito de Deus para a compreensão salvadora das coisas reveladas na Palavra (I, 6), e que, finalmente, o Juiz Supremo pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser examinadas é o Espírito Santo falando nas Escrituras (I, 8).

Continuidade, O Teólogo do Espírito Santo

A Soberania do Espírito

Um último ponto ao qual desejo me referir é a insistência de Calvino sobre a soberania do Espírito Santo nesta relação íntima com a Palavra de Deus. Para ele, a Palavra é o instrumento pelo qual Deus dispensa a iluminação do Espírito aos crentes.(25) Assim, Cristo fala hoje através do ministro do Evangelho, quando o mesmo expõe fielmente a Palavra. O Espírito torna eficaz a Palavra exposta nos corações dos que a ouvem. Ao mesmo tempo, a relação Espírito-Palavra não é mágica, ou automática. A Palavra não é como um talismã, que sempre que invocado, libera seu poder mágico, ao bel-prazer do seu possuidor. A eficácia da Palavra, ao contrário, está totalmente na dependência da soberania do Espírito.(26) Para Calvino, a afirmação de Paulo de que somos ministros de uma nova aliança, do Espírito que vivifica (2 Co 3.6), não é uma garantia de que nossa pregação sempre será acompanhada pelo poder vivificador do Espírito. Pastores não retém o poder de dispensar a graça do Espírito a qualquer um que desejem, e quando o desejem. É por um ato soberano que o Espírito torna a Palavra pregada em Palavra eficaz.(27)
Assim, a eloquência, a habilidade, a erudição e o fervor do pregador de nada adiantam, se a graça e o poder do Espírito não estiverem presentes. E assim ocorre porque, o mérito sempre deve ser de Cristo, e não dos pregadores.

Continuidade, O Teólogo do Espírito Santo

O Ensino de Calvino sobre o Espírito e a Palavra

Calvino não se limitou a criticar os exageros dos "Entusiastas." Ele apresentou, de forma positiva e construtiva, o ensino bíblico sobre a direção divina para a Igreja vivendo após os tempos apostólicos. No livro I das suas Institutas, onde trata de "O Conhecimento de Deus como Criador", Calvino dá o seguinte título ao capítulo 9: Os fanáticos, abandonando as Escrituras e bandeando-se para revelação, derrubam todos os princípios da piedade. Nesse capítulo, o reformador aborda o ensino dos "Fanáticos", como eram conhecidos na época, a partir da inseparável relação entre o Espírito e a Palavra.(20)
O Espírito Fala pelas Escrituras
O ponto central de Calvino era que o Espírito fala pelas Escrituras. Não que o Espírito estivesse restrito à Pregação da Palavra e aos sacramentos, mas sim que Ele não pode ser dissociado de ambos. O Espírito havia sido dado à Igreja, não para trazer novas revelações, mas para nos instruir nas palavras de Cristo e dos profetas. De acordo com Calvino, o Espírito sela nossas mentes quando ouvimos e recebemos com fé a palavra da verdade, o Evangelho da salvação (Ef 1.13). Ele limita-se a guiar os crentes e a iluminar seus entendimentos naquilo que ouviu e recebeu do Pai e do Filho, e não de Si mesmo (Jo 16.13). Como o ensino divino se encontra nas Escrituras, a obra do Espírito consiste em iluminá-las, fazendo com que esse ensino seja entendido pelos fiéis.
Contra o desprezo pelas Escrituras da parte de muitos "Entusiastas," Calvino citava o exemplo do apóstolo Paulo, que mesmo tendo sido arrebatado ao terceiro céu, onde recebeu revelações extraordinárias (2 Co 12.2), ainda assim jamais desprezou as Escrituras, como se fossem uma forma inferior de revelação, mas as reconheceu como suficientes e eficazes, pela graça do Espírito, para edificar a Igreja em todas as coisas concernentes ao reino de Deus (2 Tm 3.15-17; cf. 1 Tm 4.13).(21)
O Espírito é reconhecido pela sua harmonia com as Escrituras
Outro ponto importante destacado por Calvino nas Institutas era que a atuação do Espírito Santo poderia ser reconhecida pela sua harmonia com as Escrituras, as quais haviam sido inspiradas pelo próprio Espírito.(22) Calvino desejava apresentar um critério pelo qual a Igreja pudesse discernir de forma segura, no âmbito da experiência religiosa, o que realmente procedia da parte do Espírito de Deus, ou de espíritos enganadores. Para ele, havia somente um critério seguro e infalível: o Espírito falando nas Escrituras. Assim, não haveria qualquer diminuição do poder e da glória do Espírito Santo ao concordar com elas, já que Ele as havia inspirado. Seria concordar consigo mesmo, e qual a desonra que poderia haver nisto? Testar as manifestações supostamente provenientes do Espírito, usando-se o crivo das Escrituras, era, na realidade, agradável a Ele, pois Ele mesmo havia determinado que a Igreja assim procedesse com as manifestações espirituais.(23) Para Calvino, não poderia haver qualquer contradição entre o ensino bíblico e a atuação do Espírito nos tempos pós-apostólicos; e é por esta razão que ele frequentemente se refere às Escrituras como "a imagem do Espírito."(24)

Continuidade, O Teólogo do Espírito Santo

Os Reformadores Radicais e seu Desprezo pela Palavra

A outra fronte de batalha de Calvino era contra o ensino da Reforma radical, conhecida como a "ala esquerdista" da Reforma.(14) Havia diversos grupos dentro desta ala do movimento reformista. Havia, em primeiro lugar, como os Anabatistas, os "Fanáticos", os "Espiritualistas" e os Antitrinitarianos, que "embora diferentes em seus propósitos e em suas doutrinas, tinham em comum o desejo de ver uma Reforma muito mais radical do que a propagada por Lutero e Zwinglio."(15) A polêmica de Calvino contra os Anabatistas concentrou-se em questões como batismo infantil, predestinação, governo de Igreja, relação entre Igreja e Estado, e interpretação das Escrituras.(16)
Foi contra os excessos dos "Entusiastas" ou "Fanáticos" (como eram conhecidos) na área de novas revelações contemporâneas do Espírito, que Calvino se concentrou em alguns de seus escritos. Ele escreveu um tratado em 1545 entitulado Contre la secte phantastique et furieuse des Libertines qui se nomment spirituelz (Contra a seita fantástica e furiosa dos Libertinos, que se chamam de Espirituais), que ainda não foi traduzido para o português.(17) Freqüentemente em suas Institutas e comentários Calvino faz menções diretas ou sugestões implícitas sobre este movimento.
Os "Entusiastas" enfatizavam o ministério didático do Espírito, um ponto que havia sido resgatado pelos Reformadores; porém, estavam indo além deles, reivindicando serem ensinados diretamente pelo Espírito através de novas revelações, por meio de uma luz interior. Afirmavam que o Espírito não podia ficar restrito a palavras escritas, pois isto diminuiria sua soberania. Testar as manifestações espirituais seria desonrar o Espírito. Chegavam a ridicularizar os que se apegavam às Escrituras, pois a consideravam como uma forma inferior e temporária de revelação, e criticavam Calvino e os demais reformadores por se apegarem à letra que mata.
Os "Entusiastas," portanto, eram uma reação à escravidão das Escrituras por parte da Igreja que havia vigorado até a Reforma, mas uma reação que estava indo longe demais. Calvino, naturalmente, simpatizava-se com os "Entusiastas" em vários pontos. Para ambos, as Escrituras, como Palavra de Deus, não estavam cativas à interpretação da Igreja, mas deveriam ser livremente examinadas por todos. Calvino, porém, questionava seriamente a separação entre o Espírito e a Palavra, e considerava qualquer tendência neste sentido como "demência".(18) Ele também duvidava que "novas revelações" fossem uma obra do Espírito Santo, e chegava mesmo a suspeitar que os que reinvidicavam receber revelações novas, que excediam as Escrituras, estavam sendo guiados por outro espírito, que não o de Deus. Calvino cria na realidade e na atuação de espíritos mentirosos, e que Satanás estava continuamente iludindo as pessoas, procurando afastá-las da verdade, transfigurando-se em "anjo de luz" (2 Co 11.3,14). Para ele, "novas revelações", na verdade, eram invenções de espíritos mentirosos, não provinham do Espírito Santo, sendo o cumprimento de passagens como 1 Tm 4.1-2.(19)

Continuidade O Teologo do Espirito Santo

O Contexto Teológico de Calvino

Comecemos por lembrar-nos que a teologia de Calvino nasceu e desenvolveu-se em meio ao intenso conflito doutrinário que marcou a Reforma do século XVI. Sua doutrina do Espírito Santo foi moldada em meio à sua batalha em duas frentes. Em uma, ele enfrentava o cativeiro das Escrituras pela Igreja Católica, e na outra, o abandono das Escrituras pelos da Reforma radical.
A Igreja Católica e o cativeiro das Escrituras
Calvino e a Igreja Católica tinham algumas convicções em comum quanto à doutrina das Escrituras. Para eles, as Escrituras eram a Palavra de Deus, inspiradas pelo Espírito Santo, infalíveis, e autoritativas. Este ponto não estava sendo disputado por Calvino, nem pelos demais reformadores. O ponto de discórdia entre Calvino e os católicos era quanto ao ensino papista de que a autoridade da Escritura dependia do testemunho da Igreja. A Igreja Católica afirmava que o cânon das Escrituras, a sua preservação, a sua origem divina e sua autoridade, deviam ser aceitos pelos fiéis como verdadeiros porque a Igreja assim o afirmava. A autoridade das Escrituras, enfim, dependia do testemunho da Igreja. A Igreja, além disto, tinha a correta interpretação das Escrituras; a coleção dessas interpretações formava a tradição eclesiástica, que possui tanta autoridade quanto as próprias Escrituras. Assim, era vedado aos católicos leigos lerem e interpretarem as Escrituras. Eles dependiam da interpretação dada pela Igreja. Desta forma, a Palavra e a sua interpretação estavam cativas debaixo da autoridade eclesiástica.
Calvino levantou-se contra esse estado de coisas, que havia prevalecido durante a Idade Média. Ele considerava esse ensino como sendo uma afronta ao Espírito Santo, e um abuso de autoridade por parte da Igreja. Era a Igreja que estava fundada sobre as Escrituras, e não o contrário. A autoridade das Escrituras não dependia do testemunho da Igreja, e sim o contrário: a Igreja só possuía autoridade enquanto estivesse dentro da doutrina bíblica. Calvino apelava aqui para Ef 2.20, onde Paulo ensina que a Igreja está edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, que é o ensino das Escrituras.(7) A Igreja simplesmente reconhecia — não estabelecia e nem determinava — a inspiração e a autoridade dos livros que compunham o cânon sagrado.(8)
Para Calvino, a maior de todas as provas da autoridade e inspiração das Escrituras era que o próprio Deus nos falava através delas. Calvino chamava a isto o testemunho interno do Espírito.(9) Para ele, o homem natural não poderia ser convencido da divindade das Escrituras por argumentos apresentados pela Igreja, por mais lógicos e racionais que eles parecessem (1 Co 2.14).(10) Era o Espírito quempersuadia o crente de que Deus estava falando nas Escrituras, inclinando-lhe o coração a aceitá-las, e dando-lhe plena certeza disto, gerando-lhe fé em seu coração. Nas suas Institutas e comentários Calvino aponta para alguns textos com este efeito, como por exemplo, 1 Jo 5.6-7, 2 Tm 1.14-15, 1 Co 2.10-16.(11)
Para Calvino, o que o Espírito havia revelado nas Escrituras era suficiente e final. Maomé, o Papa, e os "Entusiastas" estavam errados, ao reivindicar que o Espírito estaria ensinando novas verdades no presente. Para Calvino, as palavras do Senhor Jesus em Jo 14.25 deixavam claro que o ministério do Consolador consistiria, não em revelar novas verdades, que fossem além das que haviam sido ensinadas pelo Senhor Jesus e seus apóstolos, mas em iluminar as mentes e os corações dos crentes, para que compreendessem e cressem nas verdades, agora registradas na Escritura. Ele afirma: "O espírito que introduz qualquer doutrina ou novidade que vá além do Evangelho, é um espírito de mentira, e não o Espírito de Cristo."(12)
O efeito do ensino de Calvino foi libertador.(13) Através da ênfase no testemunho interno do Espírito Santo como a evidência máxima da divindade e da autoridade das Escrituras, ele libertou as Escrituras e a sua interpretação do cativeiro imposto pela Igreja Medieval, e as colocou de volta onde elas pertenciam de direito, nas mãos do Espírito Santo. Neste sentido, estava certa a avaliação de alguns católicos encarregados da contra-reforma no século XVII, de que uma das maiores diferenças que existiam entre Roma e Genebra se encontrava em suas doutrinas sobre a pessoa e a obra do Espírito Santo.

O Teólogo do Espírito Santo: Um Estudo sobre o Ensino de Calvino sobre a Palavra e o Espírito

Augustus Nicodemus Lopes
[Esse material está publicado em forma de livro pela Publicações Evangélicas Selecionadas e é reproduzido aqui com permissão]

Introdução
Meu tema neste artigo é "Calvino, o teólogo do Espírito Santo." Devo começar dizendo que este título não foi dado a Calvino pelos seus contemporâneos, mas sim pelos estudiosos modernos, reconhecendo a sua importância como teólogo e exegeta para esta área da Teologia que está em tanta relevância hoje.
O título pode confundir algumas pessoas. Podem pensar que o assunto sobre o qual Calvino mais escreveu, e ao qual mais se dedicou, foi o Espírito Santo. Na realidade, embora Calvino tenha escrito muita coisa sobre o Espírito Santo, nunca escreveu uma obra específica sobre o assunto, como, por exemplo, John Owen e Abraham Kuyper, cujos livros sobre o tema são fundamentais para a Igreja contemporânea.(1) Embora em suas Institutas de Religião Cristã João Calvino trate freqüentemente da pessoa e obra do Espírito Santo, não dedicou ao assunto um capítulo exclusivo.(2)
Alguns têm criticado Calvino por não haver dado atenção mais direta ao Espírito Santo em seus escritos, especialmente nas Institutas. A crítica é injusta. Existem razões suficientes para esta aparente falta de atenção.
Em primeiro lugar, a doutrina do Espírito Santo não era o foco do debate de Calvino com a Igreja Católica Romana da sua época, e nem da sua polêmica com os reformadores radicais, os Anabatistas e os "Entusiastas", conhecidos como a ala de esquerda da Reforma.(3) Calvino só tratou da obra do Espírito Santo na medida em que esse assunto se relacionava com os pontos críticos em debate, como a doutrina da salvação, da santificação, das Escrituras, e dos sacramentos.
Em segundo lugar, Calvino tinha a visão bíblica-neotestamentária de que o Espírito Santo geralmente agia nos bastidores, como o agente da Trindade. Embora sua ação fosse claramente perceptível, quem deveria sempre receber a proeminência eram o Pai e o Filho. Essa convicção reflete-se nas suas obras e em sua abordagem dos mais variados temas teológicos. Não existe praticamente nenhum assunto teológico em que Calvino não se refira, em seu tratamento, à obra do Espírito. Sua Pneumatologia é desenvolvida dentro das demais áreas da Teologia Sistemática, como Teontologia (estudo da Pessoa de Deus), Soteriologia e Eclesiologia.
Esta mesma abordagem se encontra refletida na Confissão de Fé de Westminster. É verdade que seus autores, os Puritanos, não escreveram um capítulo exclusivo sobre a pessoa e obra do Espírito. Mas, como sugeriu Dr. Benjamim B. Warfield, conhecido teólogo presbiteriano reformado, do início deste século, a razão é que preferiram escrever nove capítulos em vez de apenas um. A tentativa que foi feita em nossa época, pela Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, para suprir esta alegada deficiência, produziu um capítulo a mais na Confissão de Fé que, segundo Warfield, nada mais é que um curto sumário destes nove capítulos originais.(4)
E por fim, não se pode exigir de Calvino (e nem dos autores da Confissão de Fé) uma abordagem do assunto que seja aguçada pelas questões relacionadas com o surgimento do movimento pentecostal, séculos após a sua morte. Mesmo assim, Calvino é surpreendentemente atual no que diz sobre o Espírito.
Por que, então, o título "teólogo do Espírito Santo?" Em primeiro lugar, Calvino foi o primeiro a sistematizar de forma clara o ensino bíblico sobre o Espírito Santo. Não é que ninguém, antes dele, não houvesse escrito sobre o assunto. Mas, é que poucos, antes e depois de Calvino, conseguiram ser tão claros, simples, e bíblicos.(5) Ouçamos o testemunho de Dr. Warfield:
A doutrina sobre a obra do Espírito Santo é uma dádiva de João Calvino à Igreja de Cristo. . . Nos amplos departamentos doutrinários sobre "A Graça Comum," "Regeneração," e "O Testemunho do Espírito" do livro terceiro das Institutas, Calvino foi o primeiro a desenvolver a doutrina da obra do Espírito Santo, e a dar a toda a doutrina do Espírito Santo uma formulação sistemática, fazendo dela uma possessão inalienável da Igreja de Deus.(6)
Em segundo lugar, Calvino integrou indissoluvelmente a doutrina do Espírito Santo aos demais temas e áreas da teologia, como regeneração, santificação, os meios de graça, e o conhecimento de Deus, entre outros. A Pneumatologia de Calvino, igualmente, abrangia e permeava todos os demais departamentos da Enciclopédia Teológica. Sua teologia é uma unidade orgânica, onde o Espírito aparece apropriadamente como o Soberano dinamizador.
Em terceiro lugar, Calvino resgatou alguns aspectos da doutrina do Espírito Santo que estavam soterrados debaixo da teologia medieval da Igreja Católica, como por exemplo, a relação entre a Palavra e o Espírito. Nosso alvo neste ensaio é analisar mais exatamente esta contribuição de Calvino para nosso conhecimento da obra do Espírito Santo, ou seja, a relação vital e orgânica entre o Espírito e a Palavra de Deus, as Escrituras.
O ensino de Calvino influenciou profundamente os estudos subsequentes dentro dos círculos Reformados. Sua ênfase na ação soberana do Espírito continua na tradição reformada entre os Puritanos ingleses, particularmente John Owen e Richard Sibbes, que nos deram os estudos bíblicos teológicos mais extensos e profundos que existem em qualquer língua sobre o ministério do Espírito Santo.

O Teólogo do Espírito Santo: Um Estudo sobre o Ensino de Calvino sobre a Palavra e o Espírito

Augustus Nicodemus Lopes
[Esse material está publicado em forma de livro pela Publicações Evangélicas Selecionadas e é reproduzido aqui com permissão]

Introdução
Meu tema neste artigo é "Calvino, o teólogo do Espírito Santo." Devo começar dizendo que este título não foi dado a Calvino pelos seus contemporâneos, mas sim pelos estudiosos modernos, reconhecendo a sua importância como teólogo e exegeta para esta área da Teologia que está em tanta relevância hoje.
O título pode confundir algumas pessoas. Podem pensar que o assunto sobre o qual Calvino mais escreveu, e ao qual mais se dedicou, foi o Espírito Santo. Na realidade, embora Calvino tenha escrito muita coisa sobre o Espírito Santo, nunca escreveu uma obra específica sobre o assunto, como, por exemplo, John Owen e Abraham Kuyper, cujos livros sobre o tema são fundamentais para a Igreja contemporânea.(1) Embora em suas Institutas de Religião Cristã João Calvino trate freqüentemente da pessoa e obra do Espírito Santo, não dedicou ao assunto um capítulo exclusivo.(2)
Alguns têm criticado Calvino por não haver dado atenção mais direta ao Espírito Santo em seus escritos, especialmente nas Institutas. A crítica é injusta. Existem razões suficientes para esta aparente falta de atenção.
Em primeiro lugar, a doutrina do Espírito Santo não era o foco do debate de Calvino com a Igreja Católica Romana da sua época, e nem da sua polêmica com os reformadores radicais, os Anabatistas e os "Entusiastas", conhecidos como a ala de esquerda da Reforma.(3) Calvino só tratou da obra do Espírito Santo na medida em que esse assunto se relacionava com os pontos críticos em debate, como a doutrina da salvação, da santificação, das Escrituras, e dos sacramentos.
Em segundo lugar, Calvino tinha a visão bíblica-neotestamentária de que o Espírito Santo geralmente agia nos bastidores, como o agente da Trindade. Embora sua ação fosse claramente perceptível, quem deveria sempre receber a proeminência eram o Pai e o Filho. Essa convicção reflete-se nas suas obras e em sua abordagem dos mais variados temas teológicos. Não existe praticamente nenhum assunto teológico em que Calvino não se refira, em seu tratamento, à obra do Espírito. Sua Pneumatologia é desenvolvida dentro das demais áreas da Teologia Sistemática, como Teontologia (estudo da Pessoa de Deus), Soteriologia e Eclesiologia.
Esta mesma abordagem se encontra refletida na Confissão de Fé de Westminster. É verdade que seus autores, os Puritanos, não escreveram um capítulo exclusivo sobre a pessoa e obra do Espírito. Mas, como sugeriu Dr. Benjamim B. Warfield, conhecido teólogo presbiteriano reformado, do início deste século, a razão é que preferiram escrever nove capítulos em vez de apenas um. A tentativa que foi feita em nossa época, pela Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, para suprir esta alegada deficiência, produziu um capítulo a mais na Confissão de Fé que, segundo Warfield, nada mais é que um curto sumário destes nove capítulos originais.(4)
E por fim, não se pode exigir de Calvino (e nem dos autores da Confissão de Fé) uma abordagem do assunto que seja aguçada pelas questões relacionadas com o surgimento do movimento pentecostal, séculos após a sua morte. Mesmo assim, Calvino é surpreendentemente atual no que diz sobre o Espírito.
Por que, então, o título "teólogo do Espírito Santo?" Em primeiro lugar, Calvino foi o primeiro a sistematizar de forma clara o ensino bíblico sobre o Espírito Santo. Não é que ninguém, antes dele, não houvesse escrito sobre o assunto. Mas, é que poucos, antes e depois de Calvino, conseguiram ser tão claros, simples, e bíblicos.(5) Ouçamos o testemunho de Dr. Warfield:
A doutrina sobre a obra do Espírito Santo é uma dádiva de João Calvino à Igreja de Cristo. . . Nos amplos departamentos doutrinários sobre "A Graça Comum," "Regeneração," e "O Testemunho do Espírito" do livro terceiro das Institutas, Calvino foi o primeiro a desenvolver a doutrina da obra do Espírito Santo, e a dar a toda a doutrina do Espírito Santo uma formulação sistemática, fazendo dela uma possessão inalienável da Igreja de Deus.(6)
Em segundo lugar, Calvino integrou indissoluvelmente a doutrina do Espírito Santo aos demais temas e áreas da teologia, como regeneração, santificação, os meios de graça, e o conhecimento de Deus, entre outros. A Pneumatologia de Calvino, igualmente, abrangia e permeava todos os demais departamentos da Enciclopédia Teológica. Sua teologia é uma unidade orgânica, onde o Espírito aparece apropriadamente como o Soberano dinamizador.
Em terceiro lugar, Calvino resgatou alguns aspectos da doutrina do Espírito Santo que estavam soterrados debaixo da teologia medieval da Igreja Católica, como por exemplo, a relação entre a Palavra e o Espírito. Nosso alvo neste ensaio é analisar mais exatamente esta contribuição de Calvino para nosso conhecimento da obra do Espírito Santo, ou seja, a relação vital e orgânica entre o Espírito e a Palavra de Deus, as Escrituras.
O ensino de Calvino influenciou profundamente os estudos subsequentes dentro dos círculos Reformados. Sua ênfase na ação soberana do Espírito continua na tradição reformada entre os Puritanos ingleses, particularmente John Owen e Richard Sibbes, que nos deram os estudos bíblicos teológicos mais extensos e profundos que existem em qualquer língua sobre o ministério do Espírito Santo.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Quem foi João Calvino?

João Calvino foi um dos Reformadores da Igreja. A sua teologia é vista com reservas principalmente quando se refere a predestinação. Essa doutrina é a mais rejeitada dentre as doutrinas calvinistas. Mais adiante veremos como João Calvino defende essa idéia.
Calvino que viveu entre 1509 e 1564, criou um sistema teológico que recebeu o nome de "calvinismo". Os sistemas de teologia desenvolvidos a partir do seu sistema de teologia recebeu o termo "fé reformada". E, o termo "Presbiterianismo", passou a ser a palavra usada para exprimir a forma de organização eclesiástica concebida por Calvino, que fez de Genebra o centro de execução de suas idéias. Sendo considerado como o líder de segunda geração de Reformadores.
Calvino, recebeu formação humanística, motivo pelo qual se tornou organizador por excelência do protestantismo. Enquanto esteve em Genebra, enfrentou problemas de saúde. Gostava de estudar solitariamente. Viveu na Suíça republicana e muito se interessou pelo desenvolvimento de uma igreja governada com representatividade.
Calvino, sempre se preocupava com a formulação de um sistema formal de teologia. Aceitou a autoridade da Bíblia e sua ênfase maior se baseava na soberania absoluta de Deus.
Calvino negava a presença física de Cristo na Ceia e aceitava a presença espiritual de Cristo pela fé nos corações dos participantes da Ceia. Calvino, rejeitava tudo que não pudesse ser provado pela Bíblia. Defendia também, a eleição dupla, para a salvação e para a condenação, baseado na vontade de Deus, e rejeitava qualquer concepção da salvação como fruto do mérito do eleito ou da presciência de Deus, como se Deus elegesse para a salvação aqueles que Ele sabia de antemão que creriam.
Calvino, tinha uma concepção majestosa de Deus, a exemplo de alguns dos profetas do Antigo Testamento.
As primeiras letras dos principais termos da teologia de Calvino formam o anagrama TELIP que descrevemos a seguir:
a) ele acentuava a Totalidade da depravação humana, entendendo que o homem herdou a culpa do pecado de Adão e nada pode fazer por sua salvação, uma vez que a sua vontade era totalmente corrompida;
b) ensinava que a salvação é um assunto de Eleição incondicional e independe do mérito humano ou da presciência de Deus. Assim, a eleição é fundamentada na soberania da vontade de Deus, havendo uma predestinação dupla, para a salvação e para a perdição;
c) Calvino concebia ainda a Limitação da redenção, ao propor que a obra de Cristo na Cruz é restringida aos eleitos para a salvação.
d) a doutrina da Irresistibilidade da graça é necessária, de onde se conclui que o eleito é salvo independentemente de sua vontade, pois o Espírito Santo o dirige irresistivelmente para Cristo;
e) a Perseverança (ou preservação) dos santos é o ponto final do seu sistema; os eleitos, irresistivelmente salvos pela obra do Espírito Santo, jamais se perderão.

Calvino quando se converteu e passou a adotar as idéias da Reforma, dispensou imediatamente o dinheiro das rendas eclesiásticas.
Em Basiléia, concluiu a sua obra chamada as Institutas da Religião Cristã, que se constituíram na maior expressão acabada da teologia reformada. Nesta obra, ele pôs os fundamentos de duas ênfases reformadas: a importância da doutrina e a centralidade de Deus na teologia cristã. Suas cartas e outros escritos, integram 57 volumes do Corpus Reformatorum, e existem 2.000 de seus sermões. Foi um incentivador da educação e em substituição à Academia, ele criou em Genebra um sistema de educação em três níveis, hoje conhecida como Universidade de Genebra, fundada em 1559. Esta visão influenciou a educação até nos Estados Unidos, quando puritanos, calvinistas, criaram escolas no novo mundo.
Calvino, era eloqüente pregador. Seus comentários sobre os livros da Bíblia são estudados até hoje por seus seguidores. O modelo de administração da igreja genebrina tornou-se modelo para as igrejas reformadas.
Calvino também influenciou o avanço da democracia, porque aceitou o princípio representativo da direção da Igreja e do Estado. Entendia que a Igreja e o Estado foram criados por Deus para o bem do homem, motivo pelo qual deviam, cooperar para o progresso do cristianismo. Calvino, estimulou o capitalismo, quando deu ênfase a vocação como chamada divina e a importância que dava à frugalidade e ao trabalho.
O estudo da história da expansão do Evangelho mostrará que aqueles que professam a fé reformada tiveram parte importante nos grandes reavivamentos do passado e nos movimentos missionários modernos.
O trabalho que Calvino realizou frutifica até hoje. Foi, sem sombra dúvida, um reformador internacional, cujo trabalho influenciou os Presbiterianos, Reformados e Puritanos.

Augusto Bello de Souza Filho
Bel em Teologia.

O Credo Apostólico*

ORIGEM

O Credo Apostólico, o mais conhecido dos credos, é atribuído pela tradição aos doze apóstolos.[1] Mas os estudiosos acreditam que ele se desenvolveu a partir de pequenas confissões batismais empregadas nas igrejas dos primeiros séculos. Embora os seus artigos sejam de origem bem antiga, acredita-se atualmente que o credo apostólico só alcançou sua forma definitiva por volta do sexto século,[2] quando são encontrados registros do seu emprego na liturgia oficial da igreja ocidental. De um modo ou de outro, parece evidente sua conexão com outros credos antigos menores; como os seguintes:

Creio em Deus Pai Todo-poderoso, e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor. E no Espírito Santo, na santa Igreja, na ressurreição da carne.

Creio em Deus Pai Todo-poderoso. E em Jesus Cristo seu único Filho nosso Senhor, que nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria; concebido sob o poder de Pôncio Pilatos e sepultado; ressuscitou ao terceiro dia; subiu ao céu e está sentado à mão direita do Pai, de onde há de vir julgar os vivos e os mortos. E no Espírito Santo; na santa Igreja; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo.[3]

O Credo Apostólico, assim como os Dez Mandamentos e a Oração Dominical, foi anexado, pela Assembléia de Westminster, ao Catecismo. “Não como se houvesse sido composto pelos apóstolos, ou porque deva ser considerado Escritura canônica, mas por ser um breve resumo da fé cristã, por estar de acordo com a palavra de Deus, e por ser aceito desde a antigüidade pelas igrejas de Cristo.”[4]

Quem foram essas pessoas chamadas de “Os Puritanos”?

John Winthrop





Primeiro foram os “Peregrinos”, nos anos 1620. Eles foram seguidos por milhares de Puritanos nos anos 1630 e estes deixaram suas fortes marcas em sua nova terra, tornando-se a mais dinâmica força nas colônias Americanas. Reportando-nos à Inglaterra, os Puritanos foram influentes pessoas na vida política do país, até que o Rei Charles não tolerou mais suas tentativas de reformar a Igreja da Inglaterra. Estava montada a perseguição. Veio então a idéia de que a única esperança seria deixar o país. Quem sabe na América eles poderiam estabelecer uma colônia cujo governo, sociedade e igreja fosse totalmente baseadas na Bíblia. A “Nova Inglaterra” poderia vir a ser a velha Inglaterra sem todos os defeitos de incredulidade e corrupção. “Puritanos” foi um termo ridiculamente usado durante o reinado da Rainha Elizabeth.

Eles eram os cristãos que desejavam uma Igreja da Inglaterra isenta de qualquer liturgia, cerimônia ou práticas que não estivessem absolutamente com base bíblica. A Bíblia era sua única autoridade, e eles defendiam que deveria ser usada em todos os níveis e áreas da vida.

FORMANDO A AMÉRICA

Os Puritanos que se estabeleceram na Nova Inglaterra deixaram um legado para a formação de uma nação única na História. Eles tiveram também uma significativa influência no desenvolvimento subseqüente da América. Uma grande parte dos demais pioneiros que vieram a seguir e ocupantes do longínquo oeste, eram descendentes daqueles primitivos Puritanos. Seus valores e princípios, embora muitas vezes secularizados e distanciados dos fundamentos religiosos, continuaram a moldar o pensamento Americano e suas práticas nos séculos a seguir.

"Por que Deixei de Falar em Línguas Estranhas?"

Prezado irmão, atendendo o convite feito na página, transcrevo de forma resumida um sermão que tenho pregado nas igrejas e que faz parte de um manual de estudos bíblicos feito por mim mesmo. Este assunto tem ajudado muitos irmãos. Eu o tenho usado para esclarecer alguns pentencostais que se tornam adventistas. Sou pregador adventista leigo, mas já fui pentencostal por 12 anos. Quando falo deste assunto falo por experiência própria, porque também já falei línguas estranhas. Coloco-me a disposição dos internautas para maiores esclarecimentos.
Jesus depois de ressuscitar antes de subir ao céu promete aos seus discípulos que seriam cheios do Espírito Santo – Atos cap. 1 vers 4 a 8.
O Espírito Santo tem parte decisiva na conversão dos pecadores, porque o pecador em seu estado natural separado de Deus forma a imagem de que Deus o evita a qualquer custo e o Espírito Santo revela ao pecador que apesar de seus feitos desagradarem a Deus, Deus o ama - Romanos cap. 5 ver. 5; faz com que reconheça que Jesus é o Senhor – I Coríntios cap. 12 ver. 3; leva o pecador a obedecer a Deus – Atos cap. 5 ver. 32. Sem a influência do Espírito Santo no coração do pecador, Êle nunca saberá que é pecador; nem que Jesus é o Seu salvador, ou que Deus o ama, e tampouco chegará a conhecer a verdade, ou a obedecê-la.
O Espírito Santo convence-nos do pecado e nos guia em toda a verdade – São João cap. 16 vers. 8 e 13.
O Espírito Santo foi prometido aos discípulos em toda a plenitude – Atos cap. 1 ver. 8 e em Atos cap. 2 vers. 1 à 13 vemos o cumprimento desta promessa.
Observem que o recebimento do Espírito Santo pelos discípulos não tinha como objetivo animar o culto, mas tinha um fim específico – a conversão das almas – Atos cap. 2 ver. 41.
Pedro cheio do Espírito Santo e em nome de Jesus pronunciou a cura do paralítico – Atos cap. 3 ver. 6, mas longe de se promover ou promover o nome de sua igreja, aproveitou a oportunidade para pregar o evangelho – Atos cap. 4 vers. 8 à 12 e até os magistrados perceberam de que Pedro havia estado com Jesus – verso 13.
Vejamos agora o que é e o que não é pentecoste.
1 – Pentecoste não é sinônimo de gritaria porque Deus não aprova gritaria – Efésios cap. 4 ver. 31.
2 – Pentecoste não é falar linguas estranhas, porque esta palavra não existe na bíblia em conexão com o Dom do Espírito Santo. Vejamos alguns detalhes.
Quando Jesus prometeu o Dom do Espírito Santo aos discípulos, êle não disse que eles falariam línguas estranhas, mas que:
Falariam novas línguas São Marcos cap. 16 ver. 17.
Ao receber o Espírito Santo o texto não diz que falaram línguas estranhas, mas que falaram noutras línguas – Atos cap. 2 ver. 4; falaram línguas – Atos cap. 10 ver. 46; falaram línguas – Atos cap. 19 ver. 6, e ao se referir ao Dom de Línguas, Paulo mencionou variedade de línguas – I Coríntios cap. 12 ver. 10. Porque nunca é mencionada a palavra estranha?
Em I Coríntios cap. 14 a palavra estranha na versão revista e corrigida simplificada de Almeida aparece em itálico demonstrando de que a palavra não existe no original (livro Segue-me pg. 130), mas foi adaptada e o termo correto é língua estrangeira.
O único lugar na bíblia em que o termo língua estranha aparece sem grifo e portanto sem adaptações, além de não haver conexão com o Espírito Santo, identifica como sendo povo cruel, os que falam língua estranha. Não verás mais aquele povo cruel, povo de fala tão profunda, que não se pode perceber, e de língua tão estranha que não se pode entender. Isaias cap. 33 ver. 19. Se observarmos o contexto perceberemos que no céu não haverá povo que fala língua estranha.
Então o que é pentecoste?
O nome pentecoste foi dado porque o derramamento do Espírito Santo aconteceu num dia de festa chamado de Pentecoste. Festa de Pentecostes ou Festa das Semanas, era realizada no fim da colheita de trigo, no terceiro mês ou Sivam (Junho), para comemorar a entrega da lei. Realizada 50 dias após a oferta do 1º molho da colheita Lv.23:15,16 e Dt. 16:09. Era chamada de
Festa da Colheita – Êxo. 23:16
Festa das Semanas – Êxo. 34:22
Dia das Primícias – Núm.28:26
Dia de Pentecoste – Ato.2:01.
O motivo de Deus ter escolhido um dia de festa para o derramamento do Espírito Santo se justifica pelo fato de haver grande concentração de pessoas na festa e o número de pessoas que haviam entendido o trabalho de salvação efetuado por Jesus através de Sua morte era bem pequeno, ou seja se resumia aos seus discípulos.
Os discípulos tiveram que falar línguas estrangeiras, porque era a única forma que o evangelho seria pregado a todos os presentes ao mesmo tempo; oportunidade única que Deus não poderia deixar de aproveitá-la, mas observem que os discípulos cheios do Espírito Santo não falaram línguas desconhecidas dos presentes, mas cada um os entendia na própria língua nativa.
Os discípulos falaram línguas desconhecidas aos judeus, mas conhecidas de: “Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotamia, e Judéia e Capadocia, Ponto e Asia. Frigia e Panfilia, Egito e partes da Libia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos. Cretenses e árabes, todos os temos ouvido em nossas próprias linguas falar das grandezas de Deus”. Portanto não eram línguas de anjos e muito menos inintelegíveis aos ouvintes.
Para aqueles que supõem que I Cor. 14 se refere ao Dom de Línguas há uma série de contradições, pois alguns versos que vamos analisar parece afirmar exatamente o contrário.
Verso 9 – Vós deveis pronunciar palavras bem intelegíveis...
Verso 18 – Prefiro falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência,... do que dez mil palavras em língua desconhecida.
Verso 28 – Se na igreja todos falarem línguas estranhas, os infiéis não dirão que estais loucos?
Versos 27 e 28 – Se não houver intérprete, esteja calado na igreja...
Verso 33 – Deus não é Deus de confusão...
Verso 40 – Faça-se tudo com decencia e ordem...
Corintho era uma cidade portuária e os irmãos de diversos lugares diferentes e de línguas também diferentes se reuniam na igreja e todos queriam orar e pregar ao mesmo tempo, e era exatamente isto que acontecia e nada mais, por isto houve tanta repreensão por parte do apóstolo Paulo.
Contraste a oração de Elias com a dos profetas de Baal ( I Reis 18:28 e I Reis 8:37) e veja qual era mais barulhenta!
A voz de Deus é mansa e delicada I Reis 19:11-13.
Algumas considerações finais:
Porque em algumas igrejas pentecostais as pessoas costumam orar de costas para o púlpito? Há alguma semelhança com os adoradores do sol (Ezequiel cap. 8 vers. 16-18) que são adoradores de Baal – II Reis cap. 23:5 ; Deuteronômio cap. 4: ver. 19 e cap. 17 vers. 2 e 3 e que sem dúvida nenhuma são os modernos guardadores do Domingo (dia do sol). Seria uma mera coincidência? Porque Daniel preferia orar com o rosto virado para JeruSalém? Daniel cap. 6 ver. 10.
Como Deus poderia dar o seu espírito àqueles que serão consumidos? Isaias cap. 66 verso 17.
Como uma oração abominável resultaria em recebimento do Espírito Santo? Provérbios cap. 28 ver. 9.
Porque os espíritas falam línguas estranhas?
Porque católicos falam línguas estranhas?
Porque os tímidos não falam línguas estranhas?
Porque para se falar línguas estranhas depende de emoção forte?
Porque Estêvão não falou línguas estranhas?
Porque João Batista não falou línguas estranhas?
Porque Jesus não falou línguas estranhas?
Prezado leitor o objetivo desta série de estudos bíblicos é analizar todos os assuntos à luz da bíblia sagrada, e como estudante da bíblia eu creio em todos os dons espirituais na forma em que a bíblia os expõem, mas jamais posso concordar com manifestações contrárias a palavra de Deus. Quando vos disserem: Consultai os que teem espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram entre os dentes; - não recorrerá um povo ao seu Deus? A favor dos vivos interrogar-se-ão os mortos?
À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva.
Amém.

Vou abrir minha igreja e já volto!

Este pais tem jeito? Folha de São Paulo, 03/12/2009O primeiro milagre do heliocentrismo - Hélio Schwartsman
Eu, Cláudio Ângelo, editor de Ciência da Folha, e Rafael Garcia, repórter do jornal, decidimos abrir uma Igreja. Com o auxílio técnico do departamento Jurídico da Folha e do escritório Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo Gasparian Advogados, fizemo-lo.
Precisamos apenas de R$ 418,42 em taxas e emolumentos e de cinco dias úteis (não consecutivos). É tudo muito simples. Não existem requisitos teológicos ou doutrinários para criar um culto religioso. Tampouco se exige número mínimo de fiéis. Com o registro da Igreja Heliocêntrica do Sagrado EvangÉlio e seu CNPJ, pudemos abrir uma conta bancária na qual realizamos aplicações financeiras isentas de IR e IOF.
Mas esses não são os únicos benefícios fiscais da empreitada. Nos termos do artigo 150 da Constituição, templos de qualquer culto são imunes a todos os impostos que incidam sobre o patrimônio, a renda ou os serviços relacionados com suas finalidades essenciais, as quais são definidas pelos próprios criadores.
Ou seja, se levássemos a coisa adiante, poderíamos nos livrar de IPVA, IPTU, ISS, ITR e vários outros "Is" de bens colocados em nome da igreja. Há também vantagens extra-tributárias. Os templos são livres para se organizarem como bem entenderem, que inclui escolher seus sacerdotes. Uma vez ungidos, eles adquirem privilégios como a isenção do serviço militar obrigatório (já sagrei meus filhos Ian e David ministros religiosos) e direito a prisão especial.

A Graça de Deus

A Graça de Deus
Rev. Ronald Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto*
O que é graça? Falamos freqüentemente da graça soberana ou da graça salvadora,
mas sabemos realmente o que é graça?
É evidente que alguns não sabem. Eles falam de “graça comum”, sugerindo que
Deus é gracioso para com todos. Se realmente soubessem o que é graça, não pensariam que
a mesma é comum. Outros afirmam que Deus não pode ser gracioso, se ele não salvar todo
o mundo, ou pelo menos der a todos uma chance. Se soubessem o que é graça, não
pensariam dessa forma.
Podemos não saber tão bem quanto pensamos o que é graça. Sabemos que a graça
é um atributo de Deus? Sabemos que Deus é gracioso em si mesmo, e seria gracioso mesmo
que nunca tivesse nos criado, mesmo que ninguém fosse salvo? Mesmo então, a graça seria
um atributo de Deus, uma de suas belezas. Ele ainda seria gracioso, mesmo que não
fôssemos os objetos e recipientes de sua graça.
Esse é o significado quando dizemos que graça é um atributo de Deus. A graça não
somente caracteriza os tratamentos de Deus para conosco. Ela pertence ao que ele é, e ele
pode deixar de ser gracioso tanto quanto pode deixar de ser Deus Todo-Poderoso.
Freqüentemente definimos graça como “favor imerecido”. Embora não seja
incorreto, não é uma definição completa de graça. Essa descrição descreve apenas a graça
de Deus para conosco, e enfatiza o fato que sua graça salvadora é livre e soberana – que ele
não a deve a ninguém. Mas não nos diz o que a graça é como um atributo de Deus.
Como a definição comum sugere, ela é favor de Deus; portanto, quando dizemos
que graça é um atributo de Deus, queremos dizer que Deus é favorável para consigo mesmo.
Isto é, sem dúvida, simplesmente dizer que Deus ama a si mesmo em primeiro lugar e
deseja sua própria gloria acima de todas as coisas, algo que a Escritura ensina claramente.
A palavra graça também tem o significado de encanto ou beleza, especialmente um
encanto ou beleza interior, que é evidente em tudo da conduta e fala de uma pessoa. Assim,
falamos de pessoas sendo graciosas, ou de sua fala ou conduta sendo graciosa (Pv. 11:16;
Cl. 4:6). A própria Escritura fala de certas pessoas achando graça ou favor (sendo bela) aos
olhos de Deus (Gn. 6:8; Lucas 1:30).
Quando dizemos que Deus é gracioso, queremos dizer que em tudo da sua glória,
ele é belo e encantador acima de tudo o mais, e que a beleza de sua pureza e glória interior
brilha em todas as suas ações e palavras. Assim, ele encontra favor aos seus próprios olhos.
Como três pessoas em um Deus, ele ama a si mesmo e as suas obras acima de tudo e
considera sua obra incomparavelmente encantadora. Isso é o que é graça como um atributo
de Deus.
Não é humilhante pensar que Deus não precisa de nós para ser gracioso? Ele é para
sempre gracioso em si mesmo, e seria mesmo que não tivesse salvo ninguém. Que ele
salvou é, portanto, uma grande maravilha e algo pelo qual nunca deveríamos cessar de
agradecê-lo.
*