sexta-feira, 5 de março de 2010

Continuidade, O Teólogo do Espírito Santo

Os Reformadores Radicais e seu Desprezo pela Palavra

A outra fronte de batalha de Calvino era contra o ensino da Reforma radical, conhecida como a "ala esquerdista" da Reforma.(14) Havia diversos grupos dentro desta ala do movimento reformista. Havia, em primeiro lugar, como os Anabatistas, os "Fanáticos", os "Espiritualistas" e os Antitrinitarianos, que "embora diferentes em seus propósitos e em suas doutrinas, tinham em comum o desejo de ver uma Reforma muito mais radical do que a propagada por Lutero e Zwinglio."(15) A polêmica de Calvino contra os Anabatistas concentrou-se em questões como batismo infantil, predestinação, governo de Igreja, relação entre Igreja e Estado, e interpretação das Escrituras.(16)
Foi contra os excessos dos "Entusiastas" ou "Fanáticos" (como eram conhecidos) na área de novas revelações contemporâneas do Espírito, que Calvino se concentrou em alguns de seus escritos. Ele escreveu um tratado em 1545 entitulado Contre la secte phantastique et furieuse des Libertines qui se nomment spirituelz (Contra a seita fantástica e furiosa dos Libertinos, que se chamam de Espirituais), que ainda não foi traduzido para o português.(17) Freqüentemente em suas Institutas e comentários Calvino faz menções diretas ou sugestões implícitas sobre este movimento.
Os "Entusiastas" enfatizavam o ministério didático do Espírito, um ponto que havia sido resgatado pelos Reformadores; porém, estavam indo além deles, reivindicando serem ensinados diretamente pelo Espírito através de novas revelações, por meio de uma luz interior. Afirmavam que o Espírito não podia ficar restrito a palavras escritas, pois isto diminuiria sua soberania. Testar as manifestações espirituais seria desonrar o Espírito. Chegavam a ridicularizar os que se apegavam às Escrituras, pois a consideravam como uma forma inferior e temporária de revelação, e criticavam Calvino e os demais reformadores por se apegarem à letra que mata.
Os "Entusiastas," portanto, eram uma reação à escravidão das Escrituras por parte da Igreja que havia vigorado até a Reforma, mas uma reação que estava indo longe demais. Calvino, naturalmente, simpatizava-se com os "Entusiastas" em vários pontos. Para ambos, as Escrituras, como Palavra de Deus, não estavam cativas à interpretação da Igreja, mas deveriam ser livremente examinadas por todos. Calvino, porém, questionava seriamente a separação entre o Espírito e a Palavra, e considerava qualquer tendência neste sentido como "demência".(18) Ele também duvidava que "novas revelações" fossem uma obra do Espírito Santo, e chegava mesmo a suspeitar que os que reinvidicavam receber revelações novas, que excediam as Escrituras, estavam sendo guiados por outro espírito, que não o de Deus. Calvino cria na realidade e na atuação de espíritos mentirosos, e que Satanás estava continuamente iludindo as pessoas, procurando afastá-las da verdade, transfigurando-se em "anjo de luz" (2 Co 11.3,14). Para ele, "novas revelações", na verdade, eram invenções de espíritos mentirosos, não provinham do Espírito Santo, sendo o cumprimento de passagens como 1 Tm 4.1-2.(19)

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